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Segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Saúde

04/05/2009 01:45:21

DRAMA DO DESEMPREGO DEGRADA PEÕES DE FAZENDA

Enquanto nesta segunda-feira a maioria dos vilhenenses está no trabalho, após o feriadão do Dia do Trabalhador, cerca de vinte homens adultos, alguns com mais de 70 anos, vivem em situação degradante em pleno centro da cidade. Nos quarteirões finais da Avenida Major Amarante, sentido bairro São José, um grupo de maltrapilhos dorme e come nas ruas. São peões de fazenda que todo ano ficam sem ocupação no chamado “Tempo das Águas”.

 

Ao longo das últimas semanas, a reportagem da FOLHA tem acompanhado e documentado o dia a dia de Rodinei da Silva, Gelson Antonio Rodrigues, Divino Pereira Góes e Adilson Miguel. Entretanto, o personagem mais fascinante é João Paulino, um ancião nascido em 1938, que também perambula naquelas imediações da cidade.

 

A “residência” de um deles é um ponto de ônibus quase em frente à delegacia de Polícia Civil. É normal quem passa por ali vê-lo dormindo na parada, coberto por um lençol e cercado de “gorotes” de cachaça. Quem vai pela Avenida sentido centro/bairro encontra no quarteirão seguinte outro ponto de aglomeração. Na fachada de uma das mais antigas entre as lojas maçônicas da cidade, vivem os outros.

 

Entre vários outros aspectos sórdidos, de cara impressiona as poças de óleo queimado jogadas na frente do prédio, uma tentativa de vizinhos de expulsar os desocupados do local. Não adianta. Eles permanecem, e ainda acusam quem os quer fora dali. “Não são os ‘maçônicos’ não, meu filho. Eles gostam de nós e até dão comida, porque nós cuidamos do prédio deles. Quem joga óleo são os comerciantes por aqui”, garante João Paulino.

 

Rodinei da Silva, o mendigo com “casa própria” – a parada de ônibus, assume a condição de todos: “Não vamos esconder de você, moço. Aqui nós somos tudo cachaceiro, e só sabemos viver no mato. Quando estamos na rua, não conseguimos viver sem caridade dos outros”. Nenhum dos entrevistados tem família em Vilhena ou está amparado por redes de proteção social do governo.

 

Quando estão na ativa, nas fazendas de Vilhena e imediações, eles são a vanguarda da humanidade na devastação da floresta, sendo os primeiros a derrubar áreas nativas que depois viram pasto ou lavoura. Um trabalho brutal e mal-remunerado, aceito apenas por quem não tem estudo para conseguir outra ocupação.

 

Entre os cinco personagens observados dias a fio e ouvidos duas vezes pela reportagem, nos dias 22 de abril e 02 de maio, João Paulino impressiona. Bem humorado e inteligente, ele não sabe escrever o próprio nome, mas fala de assuntos como Lula, Barack Obama e, para espanto da reportagem, gripe suína. Outra coisa que chama a atenção: é o único entre o grupo que possui documentos. Todos os obrigatórios, e todos em perfeito estado de conservação.

 

Apesar do cheiro da pinga, ele é o único com corpo e roupas limpas. “É que eu sempre guardo um pouquinho para poder parar num hotel. É melhor que dormir na rua, igual esses bobos. E pinga eu tomo do mesmo jeito que eles”, finaliza entre gargalhadas. Prestes a completar 71 anos, Paulino espera retornar logo para o mato, e retomar sua “vida profissional”.

 

Na sexta-feira passada, Dia do Trabalhador, é evidente que o quinteto não recebeu homenagem de ninguém. Foi um dia como outro qualquer no drama dos excluídos pela sociedade. Mendigar comida, arrumar uns centavos pra pinga e o cigarro, e beber até cair nas sarjetas da avenida principal de Vilhena.

 

Entenda as fotos (da esquerda para a direita)

 

1 - O BEM HUMORADO JOÃO PAULINO (02/05/09)

 

2 - RODINEI DA SILVA (DE BARBA) RECEBE VISITA EM "CASA" (22/04/09)

 

3 - PAULINO TENTA DEBATER ASSUNTOS COMO LULA, BARACK OBAMA E GRIPE SUÍNA COM OS COLEGAS DE INFORTÚNIO RODINEI E GELSON ANTONIO (02/05/09)

 

4 - GELSON ANTONIO. RODINEI DA SILVA, DIVINO PEREIRA E ADILSON MIGUEL (02/05/09)





Fonte: FS
Autor: QUEVEDO

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