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Sexta-feira, 28 de março de 2025

Cotidiano

21/09/2019 12:05:00

Conheça a história do cabeleireiro vilhenense que foi da igreja evangélica ao mundo do crime e hoje tenta reconstruir sua vida


Luis Fernando conta sua saga que vai do vício em drogas ao presídio
 
Luis Fernando, 32 anos. Atualmente, é dono de um salão no Setor 19, mas seu meio de sobrevivência nem sempre foram os cortes de cabelos. Aliás, essa profissão ele aprimorou quando ainda cumpria pena por diversos crimes que cometeu, sendo o mais comum deles o assalto. Mas, essa história é bem longa.
 
Quando menino, aos 7 anos, se converteu ao cristianismo protestante em uma igreja no Estado do Pernambuco. Aos 8, retornou a Vilhena. A família era composta pelo pai que teve vício em álcool, e uma mãe fumante. Porém, ao retornar a sua cidade natal, Fernando se deparou com sua matriarca também frequentando a igreja evangélica com seus três irmãos. Ele passou a ir junto.
 
“Dos 7 aos 14 anos eu fui um adolescente sensacional, espiritualmente falando, e costumo dizer se até os 14 anos, se morresse, eu teria certeza da minha salvação”, comentou. Porém, foi com essa idade que sua vida passou a mudar.
 
“Um dia, um pastor de fora veio pregar na igreja que eu congregava. Me olhou de longe, e pediu para me levar até ele. Ele me disse que me via pregando em um estádio para milhares de pessoas, e via milhares de pessoas de joelhos diante de Deus, aceitando a Jesus pela minha pregação. Com 14 anos de idade eu não entendi nada, mas hoje eu entendo que o inimigo da minha alma também ouviu essa promessa. Depois disso, não demorou muito, já começaram a aparecer oportunidades que eu não tinha”, contou.
 
Nando, como é conhecido hoje, passou a andar com companhias que seus pais reprovavam, e então deixou a igreja de lado. Em seu novo caminho, o álcool ganhou um notório espaço, aos 14 anos. “A pessoa pensa que é só uma cervejinha, ou uma pinguinha, mas o álcool é o passo para qualquer tipo de droga, porque ele nos encoraja e impulsiona a fazer aquilo que você não tem coragem de fazer. Torna-se uma das piores drogas, porque é uma droga lícita, encontrada em qualquer esquina”, disse.
 
O primeiro contato com o álcool foi dentro da Escola Zilda da Frota Uchôa, que hoje é o Colégio Tiradentes da Polícia Militar.  Não demorou muito, ele conheceu o cigarro e, posteriormente, a maconha. “Formei meu grupinho na escola, e comecei a bagunçar. A gente andava em cerca de 8, fazia vaquinha, comprava pinga e ficava lá bebendo, até que um dia chegou um rapaz, que era meu conhecido e falou assim: “nós estamos gastando tanto com bebidas, se a gente comprar R$ 10 de maconha todo mundo fuma e fica louco”, recordou.
 
Ele relata que, sóbrio, não teria coragem de experimentar a erva, mas como estava sob o efeito do álcool, aceitou. Seu amigo então comprou a maconha, fez o cigarro e deixou que “Fernandinho” fosse o primeiro a fumar.
 
“Eu sei que tem pessoas que podem não acreditar, mas eu tenho que falar que vi isso, eu ainda não estava sob o efeito da droga. Mas, na hora que eu peguei o cigarro, acendi e puxei, vi na minha frente se materializando uma sombra, como se fosse o ser humano, mas eu só vi a sombra e no puxar da fumaça essa sombra entrou no cigarro. Eu tirei o cigarro da boca e fiquei pensando que eu mal trisquei na boca e já estava vendo coisa. Coloquei de novo, quando fui puxar a segunda vez rapidamente materializou outra sombra escura, e entrou na ponta do cigarro”.
 
Desse em dia em diante, Nando não quis mais o álcool, só maconha. Mas, passou a observar que dentro da escola algumas pessoas traficavam, e também quis fazer desta uma fonte de renda. Mas, a atividade no tráfico durou pouco tempo, já que não tinha paciência para a venda.
 
Quando estava perto de completar seus 15 anos, uma confusão na escola fez com que Luiz Fernando fosse jurado de morte por um colega. No dia da briga, Nando estava armado, mas não quis atirar contra alguém que não sabia o que estava fazendo. Cinco dias depois, o rapaz mostrou uma arma para outros colegas e disse que era para matar o Fernandinho, e se não fosse ele, seria sua mãe.
 
“Enquanto era comigo tudo bem, mas, envolveu a minha mãe. Eu arrumei uma moto e fui atrás dele e o encontrei na esquina da Guarda Mirim. Descarreguei os dois revólveres nele. Na época, ele saiu para fazer uma cirurgia fora, porque uma bala ficou perto do coração, e aí eu não sei mais o que aconteceu. De lá para cá, tudo veio como uma bola de neve”.
 
Como menor, ele respondeu pelo crime. Mas, aos 18 anos, já em liberdade, viu que alguns amigos estavam melhorando a vida financeira e descobriu que faziam assaltos, então decidiu que faria o mesmo. “Me envolvi com a quadrilha e, para falar a verdade, eu viciei na adrenalina do assalto. Descobri que aquilo ali era o que me fazia me sentir bem”, disse. Preso, aos 18 anos, afirma que a cadeia serviu como uma escola, mas do crime.
 
“No país que a gente vive, com a corrupção que existe, as cadeias que deveriam ser Centros de Ressocialização, como está escrito, não é um centro de ressocialização e sim uma fábrica de criminosos. O cara chega ali com roubo de chinelo e colocam ele com os piores assassinos e assaltantes, tudo misturado, então, conversa com um e outro e se torna uma faculdade do crime. Prende um homem naquelas péssimas condições de tratamento, oferecendo até comida podre, cria um bicho e quando solta é uma fera revoltada, e é por isso que a sociedade sofre essa represália. Eu entrei na cadeia por um assalto com o roubo de uma moto, mas lá dentro encontrei vários assaltantes de bancos; ,e conversando com esses caras, eles falaram para eu assaltar bancos, lotéricas e correios”, revelou.
 
Nando jurou dentro da prisão que assim faria, e ao conseguir sua liberdade, sozinho, fez seu primeiro roubo a uma agência dos Correios. Mais tarde, com mais alguns parceiros, formou a “Quadrilha dos Correios”. Porém, em 2007, foi preso na estrada que liga Vilhena a Colorado, com 46 mil reais de um único assalto e armas. Ele respondeu por roubo a 16 agências. Foram 6 anos preso.
 
“Quando caí dentro da prisão, me viciei no crack, eu dava o meu jeito para colocar droga lá dentro, ou seja, muitas pessoas acham que a visita leva, mas também tem aqueles profissionais que não estão felizes com que ganham e quando eles vêem uma proposta muito tentadora...”
 
Foi solto aos 25 anos e decidiu fazer um último roubo para quitar suas dívidas. Novamente, preso.
 
“Fiquei mais dois anos e três meses. Foi quando eu decidi não voltar para o crime, não me envolver mais e montei o ‘Salão do Nando’, tava bem e com sucesso há um ano e sete meses”.
 
Um crime aconteceu no bairro onde morava, e o cabeleireorp foi acusado por isso, já que era o único assaltante que morava nas proximidades. Na época, Fernando usava tornozeleira eletrônica e foi comprovado que no horário do crime ele estava em casa, mas ele afirma que por causa de seu passado a polícia entendeu que ele seria o mandante. Mais uma vez, Fernando foi parar atrás das grades.
 
“Eu louvo a Deus por ter acontecido isso, porque a gente não sabe o dia de amanhã, então se Deus permitiu que isso acontecesse com certeza de algo pior ele me livrou”, frisa.
 
Nos oito meses que passou no Centro de Ressocialização Cone Sul, Nando  passou a cortar o cabelo dos bombeiros mirins, e logo começou a cumprir parte de sua pena dentro do Grupamento de Bombeiros Militares, até migrar para o regime semiaberto a pouco mais de dois meses.
 
Hoje, ele tem um total de 36 anos de pena, do qual já cumpriu 12. Ao migrar de regime, reabriu seu salão e tem planos para se aprimorar na profissão. O que fica dessa experiência é a gratidão pelas pessoas que trilharam seu caminho, como alguns Bombeiros Militares. “Deus tocou na minha vida e me colocou em meio a pessoas que só fazem o bem, aí eu senti necessidade e vi que também poderia fazer o bem. Estou com tornozeleira, mas, agradeço a Deus pela oportunidade que Ele me deu de estar vivo. Da quadrilha que éramos seis, só tem três vivos: um que está na presença de Deus, eu e mais outro que está há 11 anos em um presídio federal. Os outros foram mortos. Mas, o pior crime que cometi foi a desobediência aos meus pais”, ressaltou.
 
 
 




Fonte: Folha do Sul
Autor: Jéssica Chalegra

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