Ex-sargento da Guarda Nacional Bolivariana diz que desertou e veio a pé da Venezuela até Vilhena, junto com esposa, filhas e mascote
Grupo passa o dia em avenida movimentada em dorme em praça à noite
Compadecida da situação de um casal venezuelano que desde ontem está, em companhia das duas filhas, embaixo de uma árvore na principal avenida de Vilhena, a funcionária de uma loja nas proximidades pediu ao FOLHA DO SUL ON LINE que os entrevistasse.
Na manhã desta sexta-feira, 09, a reportagem esteve no local e conversou com Joel Alexis Montilla, de 30 anos, que surpreendeu já no início da entrevista: disse que já foi sargento da Guarda Nacional Bolivariana, instituição militar criada pelo ex-presidente da Venezuela, o falecido Hugo Chávez, e mantida pelo atual, Nicolás Maduro.
Mesmo sem falar uma única palavra em português, Montilla fez questão de apresentar sua família: a esposa, Esmeralda Valentina Bastida, 24 anos, que era enfermeira na Venezuela, e as duas filhas, de 06 e 04 anos. E o grupo também conta com a cadela pit bull “Kiara”, que os acompanha desde a saída do país boliviariano, há 04 anos.
Joel conta que, ao decidir desertar da GNB, entregou o armamento e foi caminhando até a vizinha Colômbia. Depois de três anos, ao sentir que a situação também estava difícil por lá, ele, a companheira, as meninas e a cadela decidiram migrar para o Brasil. Todo o trajeto foi feito, segundo ele, “caminando” ou de carona.
O ex-sargento conta que existe, na Venezuela, uma “guerra econômica” entre membros do próprio governo, que privilegia miliares de alta patente. No caso, dele, o salário mensal era de mil bolívares, a moeda de lá, valor insuficiente para manter as despesas.
Há apenas dois dias em Vilhena, a família tem enfrentado todo tipo de dificuldades. À noite, todos dormem em uma barraca numa praça central da cidade. A cadela Kiara fica de guarda, mas o problema maior nem é a segurança: as duas meninas ficaram resfriadas nestas condições.
Embora dependa atualmente da solidariedade dos vilhenenses, aos quais pede ajuda na avenida, Montilla diz que está disposto a aceitar qualquer tipo de trabalho. As maiores necessidades do pequeno grupo familiar no momento, segundo os integrantes da comitiva, são comida e roupa. Mas uma oferta de trabalho também seria bem-vinda para que os cinco (incluindo a cadela) possam se fixar na cidade.
Usando um cartaz com um pedido de ajuda escrito, o ex-militar aborda motoristas no trecho da avenida Major Amarante próximo ao semáforo do antigo “Posto São José”, mas avisa: quem estiver disposto a contribuir, pode procura-lo à noite na praça Nossa Senhora aparecida, onde fica a base da Polícia Militar, no centro da cidade.
Fonte: Folha do Sul
Autor: Da redação