Coronavirus: como proteger o cabrito sem deixar a onça morrer de fome?
*DIMAS FERREIRA
A pandemia de Coronavirus que está tocando o terror mundo afora, atingindo em cheio as economias de todos os países, traz consigo algumas desgraças. Uma delas é a desinformação: gente sem o menor conhecimento na área espalhando teorias sem pé nem cabeça e dicas que só agravam o que já está literalmente pela hora da morte.
Outro reflexo deste drama planetário é a histeria, decorrente justamente da primeira ignorância: pessoas assustadas (na verdade, em pânico!), tomando as precauções erradas e também potencializando o “efeito manada”.
Claro que o vírus que provoca toda essa tragédia humana é perigoso, ainda que menos letal que muitos outros. E a taxa de letalidade (mortes, no popular) varia de uma nação para outra, o que é explicado por especialistas com didática quase infantil. Na Coréia do Sul, disciplinada e com consciência social elevada, menos de 1% dos infectados morre. No Irã, desleixado e historicamente desinformado (menos no período em que ainda se chamava Pérsia), a mesma a taxa bate nos 15%.
No meio dos muitos debates sobre a catástrofe, um ao menos chama a atenção por ser coerente, necessário e aparentemente abordando um dilema insolúvel: como proteger a população e, ao mesmo tempo, garantir a sobrevivência de quem não terá renda, a não ser que se exponha ao perigo?
Para ilustrar o questionamento, uso uma reportagem publicada hoje por este site: a feira livre realizada no bairro mais populoso de Vilhena. Como mostrou o texto, tem gente preocupada, mas a prefeitura minimiza os riscos e cobra medidas para conter o vírus (CONFIRA AQUI).
É mesmo de se questionar: caso a feira seja proibida, com que dinheiro viverão pequenos ambulantes e humildes agricultores, cujo sustento vem basicamente da atividade? Se a feira for mantida, quantos não irão parar no hospital, após serem contaminados?
Sinceramente, embora eu tenha a tendência sincera, baseada nas recomendações de diferentes autoridades, de concordar com o fim da feira, ainda que por um breve período, não posso deixar de me compadecer de quem depende dela para levar uma vida minimamente digna.
Por sorte, minha e do povo vilhenense, não cabe a mim tomar a decisão que condena uns e salva outros. Eu realmente não saberia o que fazer. Boa sorte a quem terá que descascar esse abacaxi de fim de feira!
*Dimas Ferreira é editor do FOLHA DO SUL ON LINE
Fonte: Folha do Sul
Autor: Dimas Ferreira